quinta-feira, 12 de abril de 2012

Corinthians, marginalidade, crime e impunidade: um retrato do Brasil atual


Era terça-feira de Carnaval, dia de apuração do Grupo Especial do Desfile das Escolas de Samba de São Paulo. Mas, naquela tarde, não houve vencedor, já que pouco antes da leitura das últimas notas um homem com camisa da Império de Casa Verde invadiu a área reservada e rasgou os envelopes, dando início a uma confusão que teve como protagonistas membros da facção Gaviões da Fiel, ligada ao Corinthians. Estes não só ajudaram a acabar com a apuração, destruíndo o que encontravam pela frente, como saíram para a rua para cometer seus habituais atos de vandalismo, ameaçando motoristas e ateando fogo em carros alegóricos da Pérola Negra.

Nesta quinta-feira, depois de quase dois meses, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo anunciou a pena: uma multa ridícula de menos de R$7.000 para a Gaviões. E fica tudo por isso mesmo! Coniventes e covardes, os dirigentes da entidade que rege o Carnaval paulista preferiram ignorar o regulamento, que prevê a expulsão da agremiação que tiver qualquer membro que se comporte de forma inadequada na apuração das notas. Perdoar a selvageria da principal organizada corintiana não é novidade para eles: em 2010, a diretoria da Gaviões já havia barbarizado na apuração, arremessando mesas e cadeiras por não estar de acordo com uma nota considerada baixa por ela. Tal como agora, não houve punição.

O comportamento dos integrantes da Gaviões da Fiel é próprio de marginais. É a natureza deles, portanto não se pode esperar algo diferente. O que indigna, porém, é a conivência das autoridades e da mídia, sempre pronta para defender os torcedores mais sofridos, os torcedores do povo, aqueles que torcem diferente. Acabaram por criar um monstro, um bando de criminosos que se sentem no direito de fazer o que bem entendem, com a certeza da impunidade. No ano que vem, não tenha dúvidas, os holofotes estarão novamente sobre a escola, enaltecendo o fervor dos seus torcedores.

A passividade com que se acompanha o que ocorre no Carnaval é a mesma com que se segue, ano após ano, o envolvimento da Gaviões em brigas e confusões no futebol. Isso, tanto nas inúmeras mortes causadas nas ruas por membros dessa facção, como em distúrbios provocados dentro dos estádios. Apenas como exemplos, lembre-se aqui da eliminação na Libertadores pelo River Plate (2006), quando os marginais derrubaram o alambrado do Pacaembu, ou em 2009, quando incendiaram um ônibus reservado a torcedores do Vasco, ou mesmo nas inúmeras emboscadas a torcidas rivais, como a do Fluminense (2010) ou, mais recentemente, a do Palmeiras (2012).

Toda a violência praticada pela Gaviões há decadas já seria suficiente para catalogá-la como facção criminosa, bani-la para sempre dos estádios e nem sequer cogitar sua presença no Carnaval. No entanto, não só se perdoa todos os crimes desses mal chamados torcedores como ainda se passa a mão em suas cabeças, já que são do povo, e portanto podem tudo. Como não vão poder, se lhes dão o direito a isso? Como não vão poder, se o seu clube, envolvido em um escândalo de ajuda financeira ao chefe da comissão de árbitros nos anos 90, que teve um título brasileiro que o seu próprio presidente admitiu ter sido "roubado" e que se associou à máfia russa para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e de armas não apenas fica impune como ainda ganha de presente dos governos nacional e estadual o seu tão sonhado estádio, o indecente Itaquerão?

A mensagem das autoridades é clara: marginais, vocês podem tudo. Mas ao menos, não se pode acusar a Gaviões de ingratidão; afinal, o homenageado no samba-enredo deste ano foi o ex-presidente Lula, artífice do estádio que a população paga mas que o Corinthians leva. Uma imoralidade frente a qual a maior parte da mídia cala, mas que vem a coroar o festival de falcatruas e corrupção do PT, da MSI e do clube paulista. No país do bolsa-estádio e da Copa para o enriquecimento de alguns, não é de se estranhar que vândalos sejam bajulados e tratados como fiéis.

Pensando bem, que povo sofrido este, não? Recebe jogadores de presente da máfia russa, terreno e estádio do governo, tem seu presidente nomeado para a alta cúpula da CBF, vê seu clube ganhar o direito a refazer jogos em que havia sido derrotado e ainda comemora títulos assumidamente roubados. De quebra, podem botar fogo, derrubar alambrados, destruir a cidade, fazer arrastão nas estradas e matar pessoas, certos da impunidade e de ser tratados pela imprensa como a mais linda das torcidas. O que temos hoje é, sem dúvida, um retrato fiel da podridão, da sem-vergonhice e da decomposição moral da sociedade brasileira. O que temos, simplesmente, é a confirmação do que fora escrito antes e que se repete, para o caso de ainda não ter ficado claro: marginais, façam a festa; neste país, vocês podem tudo.

Foto: Band

Observação do autor:
Depois de muito tempo inativo por absoluta falta de tempo, volto com o blog, esperando atualizá-lo de forma mais frequente e contínua desta vez. A ideia é continuar acompanhado o comportamento da mídia esportiva e também falar de arbitragens, torcidas, clubes e tudo o que estiver relacionado ao futebol. Obrigado pela visita e boa leitura!