quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Que país é esse? (Ou: quem é Emerson Sheik?)

Esta é uma nação singular. Apenas em um país como o Brasil um bosta como Emerson Sheik pode ser ídolo e uma torcida formada por marginais pode ser tão bajulada. 
Tudo começou com a despedida que a torcida do Corinthians fez ao time no Aeroporto de Guarulhos, no embarque da equipe ao Japão para da disputa do Mundial de Clubes. Durante a "festa", câmeras de segurança e placas de sinalização foram quebradas, escadas rolantes travadas, extintores esvaziados e bombas arremessadas. A confusão causou destroços e tumulto no Aeroporto de Guarulhos. Vendedores também relataram que houve roubo de produtos em suas lojas. 
Como era de se esperar, a repercussão na mídia sobre os atos de vandalismo (que não foram de duas ou três pessoas, frise-se) foi mínima, optando-se pelo populismo barato e a bajulação corriqueira à torcida corintiana. Juca Kfouri - um dissimulado muito mais perigoso que o palhaço Chico Lang - não fez nenhuma menção à selvageria, limitando-se a postar uma foto da festa e algumas palavras em seu post, fiel ao seu estilo fingido e covarde. Benjamin Back foi além: não só ignorou o acontecido como fez um texto carregado de exageros e no qual apenas reforçou a arrogância de uma torcida que se crê mais apaixonada que as demais e que por isso tem direito a fazer o que bem entender. Já Rica Perrone, que tem fama de polêmico mas é o mais bundão dos jornalistas esportivos da atualidade, resumiu a barbárie como coisa de "um ou outro que se exaltou"
É fato que há tempos a torcida corintiana se acostumou a protagonizar os maiores atos de vandalismo da cidade, sem que por isso fosse punida. Ao contrário: sempre se passa a mão na cabeça dos "mais fiéis", dos "mais apaixonados", "dos mais sofridos", o que deu a eles superpoderes. A impressão que temos é que podem fazer o que bem entenderem, mesmo. Destruir o Pacaembu, queimar ônibus, promover emboscadas, botar fogo em carros alegóricos no Carnaval e depredar o aeroporto. Parece não haver limites para os marginais. E não haverá, enquanto a postura da mídia for a bajulação e a mão branda das autoridades continuar a permitir a ação dos vândalos. 
Do quebra-quebra em Guarulhos, a maior repercussão ficou por conta mesmo das declarações do lateral Léo, do Santos, e do atacante Emerson Sheik, do Corinthians. Em entrevista à ESPN, o primeiro declarou: "(A torcida do Santos) fez uma baita festa, não quebrou e não destruiu nada. Mas quem está acostumado com rodoviária não pode ir a aeroporto. Destruíram tudo, mas é assim, faz parte". Sheik não esperou muito para escrever no Twitter: "Porra só pode tá de sacanagem !!! Quem e você ? Cala a boca seu merda !!! Só e lembrado quando abre a boca suja pra falar besteira !!!" (sic)

Sheik tem se notabilizado por provocar os rivais em seu perfil no Twitter. E não há nada de errado nisso, pois faz parte do tempero do futebol. O problema é que sua arrogância é irritante na medida em que a impunidade existente no país permite que um marginal como ele possa se achar no direito de menosprezar todo mundo. A pergunta que fica então é: quem é Sheik? A resposta vem fácil: é um jogador que já foi preso por portar documentos falsificados e por estar envolvido em contrabando e lavagem de dinheiro. Portanto, quem Sheik pensa que é para ser tão insolente? Sheik é um bosta, e apenas em um país como o Brasil um ser humano dessa espécie pode ser reverenciado e (oh, surpresa) bajulado pela mídia covarde e ordinária que temos por aqui. 
Pensando bem, Sheik joga no time certo: afinal de contas, de lavagem de dinheiro o Corinthians entende bem, já que desde sua venda para a máfia russa, em 2004, o clube está acostumado a praticá-la, o que explica grande parte do seu sucesso recente no campo. Para um clube vendido para a máfia russa, acostumado a escândalos de corrupção como o infame "1-0-0" (em que o presidente alvinegro Alberto Dualib oferecia dinheiro para a campanha política de Ivens Mendes, então chefe da comissão de árbitros, em 1997) e o título roubado de 2005 (como o próprio Dualib reconheceu em escuta telefônica revelada pela Polícia Federal) e que recebeu de presente do padrinho Lula um estádio particular com dinheiro público e, mais recentemente, patrocínio de um banco estatal, também negociado pelo presidente do mensalão, Sheik é o jogador ideal e que simboliza o caráter de quem faz parte desta instituição corrupta. 
Sim, o Corinthians será campeão mundial e Sheik voltará vomitando a arrogância que lhe é habitual, assim como Mário Gobbi e outros integrantes da quadrilha. E daí? Em um país em que Maluf anda livre e em que Lula provavelmente seria reeleito caso se candidatasse novamente à presidência, fazer sucesso lavando dinheiro e comprando resultados não deveria causar estranheza. Sofram, palmeirenses. Sofram, são-paulinos. Sofram, santistas. Aqui é Curintia, mano! E assim como PT, cachoeiras e mensalões continuarão a dar as cartas por um bom tempo, também o "time do povo" (?) seguirá colecionando títulos e patrimônio nos próximos anos, como nunca antes na história deste país. Farão isso com seu dinheiro. E depois vão jogar na sua cara. Quem viver verá.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Corinthians, marginalidade, crime e impunidade: um retrato do Brasil atual


Era terça-feira de Carnaval, dia de apuração do Grupo Especial do Desfile das Escolas de Samba de São Paulo. Mas, naquela tarde, não houve vencedor, já que pouco antes da leitura das últimas notas um homem com camisa da Império de Casa Verde invadiu a área reservada e rasgou os envelopes, dando início a uma confusão que teve como protagonistas membros da facção Gaviões da Fiel, ligada ao Corinthians. Estes não só ajudaram a acabar com a apuração, destruíndo o que encontravam pela frente, como saíram para a rua para cometer seus habituais atos de vandalismo, ameaçando motoristas e ateando fogo em carros alegóricos da Pérola Negra.

Nesta quinta-feira, depois de quase dois meses, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo anunciou a pena: uma multa ridícula de menos de R$7.000 para a Gaviões. E fica tudo por isso mesmo! Coniventes e covardes, os dirigentes da entidade que rege o Carnaval paulista preferiram ignorar o regulamento, que prevê a expulsão da agremiação que tiver qualquer membro que se comporte de forma inadequada na apuração das notas. Perdoar a selvageria da principal organizada corintiana não é novidade para eles: em 2010, a diretoria da Gaviões já havia barbarizado na apuração, arremessando mesas e cadeiras por não estar de acordo com uma nota considerada baixa por ela. Tal como agora, não houve punição.

O comportamento dos integrantes da Gaviões da Fiel é próprio de marginais. É a natureza deles, portanto não se pode esperar algo diferente. O que indigna, porém, é a conivência das autoridades e da mídia, sempre pronta para defender os torcedores mais sofridos, os torcedores do povo, aqueles que torcem diferente. Acabaram por criar um monstro, um bando de criminosos que se sentem no direito de fazer o que bem entendem, com a certeza da impunidade. No ano que vem, não tenha dúvidas, os holofotes estarão novamente sobre a escola, enaltecendo o fervor dos seus torcedores.

A passividade com que se acompanha o que ocorre no Carnaval é a mesma com que se segue, ano após ano, o envolvimento da Gaviões em brigas e confusões no futebol. Isso, tanto nas inúmeras mortes causadas nas ruas por membros dessa facção, como em distúrbios provocados dentro dos estádios. Apenas como exemplos, lembre-se aqui da eliminação na Libertadores pelo River Plate (2006), quando os marginais derrubaram o alambrado do Pacaembu, ou em 2009, quando incendiaram um ônibus reservado a torcedores do Vasco, ou mesmo nas inúmeras emboscadas a torcidas rivais, como a do Fluminense (2010) ou, mais recentemente, a do Palmeiras (2012).

Toda a violência praticada pela Gaviões há decadas já seria suficiente para catalogá-la como facção criminosa, bani-la para sempre dos estádios e nem sequer cogitar sua presença no Carnaval. No entanto, não só se perdoa todos os crimes desses mal chamados torcedores como ainda se passa a mão em suas cabeças, já que são do povo, e portanto podem tudo. Como não vão poder, se lhes dão o direito a isso? Como não vão poder, se o seu clube, envolvido em um escândalo de ajuda financeira ao chefe da comissão de árbitros nos anos 90, que teve um título brasileiro que o seu próprio presidente admitiu ter sido "roubado" e que se associou à máfia russa para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e de armas não apenas fica impune como ainda ganha de presente dos governos nacional e estadual o seu tão sonhado estádio, o indecente Itaquerão?

A mensagem das autoridades é clara: marginais, vocês podem tudo. Mas ao menos, não se pode acusar a Gaviões de ingratidão; afinal, o homenageado no samba-enredo deste ano foi o ex-presidente Lula, artífice do estádio que a população paga mas que o Corinthians leva. Uma imoralidade frente a qual a maior parte da mídia cala, mas que vem a coroar o festival de falcatruas e corrupção do PT, da MSI e do clube paulista. No país do bolsa-estádio e da Copa para o enriquecimento de alguns, não é de se estranhar que vândalos sejam bajulados e tratados como fiéis.

Pensando bem, que povo sofrido este, não? Recebe jogadores de presente da máfia russa, terreno e estádio do governo, tem seu presidente nomeado para a alta cúpula da CBF, vê seu clube ganhar o direito a refazer jogos em que havia sido derrotado e ainda comemora títulos assumidamente roubados. De quebra, podem botar fogo, derrubar alambrados, destruir a cidade, fazer arrastão nas estradas e matar pessoas, certos da impunidade e de ser tratados pela imprensa como a mais linda das torcidas. O que temos hoje é, sem dúvida, um retrato fiel da podridão, da sem-vergonhice e da decomposição moral da sociedade brasileira. O que temos, simplesmente, é a confirmação do que fora escrito antes e que se repete, para o caso de ainda não ter ficado claro: marginais, façam a festa; neste país, vocês podem tudo.

Foto: Band

Observação do autor:
Depois de muito tempo inativo por absoluta falta de tempo, volto com o blog, esperando atualizá-lo de forma mais frequente e contínua desta vez. A ideia é continuar acompanhado o comportamento da mídia esportiva e também falar de arbitragens, torcidas, clubes e tudo o que estiver relacionado ao futebol. Obrigado pela visita e boa leitura!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pronto, Cosme, o Sport já não serve mais


Já se passaram quase dez dias de uma das maiores atuações do goleiro Marcos em sua bela e vitoriosa carreira com a camisa do Palmeiras. O herói alviverde foi, na noite do último dia 12, o maior responsável pela classificação de seu clube para as quartas-de-final da Taça Libertadores da América, ao defender três pênaltis na decisão contra o Sport, depois de uma brilhante atuação durante os 90 minutos.

Embora a conquista da vaga tenha sido emocionante e premiado um ser humano e atleta exemplar, não se pode dizer que tenha sido surpreendente, já que mais uma vez o clube gigante eliminou o médio (nem grande nem pequeno), como aconteceria na maioria das vezes em que se encontrassem, ainda mais em uma competição em que os paulistas somam quase 140 jogos em 14 edições (4 finais, 1 título) do torneio, contra menos de 15 partidas em apenas 2 participações do rubro-negro de Recife.

Se os confrontos entre Palmeiras e Sport não subverteram a lógica nem serviram para que o clube pernambucano confirmasse uma suposta condição de grandeza nacional, ao menos se mostraram propícios para que determinados jornalistas criassem um clima de guerra e promovessem uma rivalidade fictícia, que jamais poderá ser real, dada a enorme diferença de tamanho entre um clube e outro, qualquer que seja o critério de comparação escolhido — títulos, tradição, história, estrutura ou torcida.

De todos os jornalistas que procuraram promover esse ambiente, talvez o que tenha feito isso de forma mais explícita — embora dificilmente admita — seja Cosme Rímoli, que publicou diversas matérias e entrevistas sobre os jogos, sempre atiçando a rivalidade e torcendo quase descaradamente pelo fracasso do Palmeiras na competição.

Desde a derrota do Palmeiras por 1x3 para o Colo-Colo no Palestra Itália (em 3 de março), até a vitória por 2x0 sobre o Sport na Ilha do Retiro (em 8 de abril), Rímoli publicou nada menos do que nove posts falando ou fazendo referência ao assunto. Em um dos mais célebres, o vice-presidente do clube pernambucano, Guilherme Beltrão, foi entrevistado, soltando diversas pérolas como:

(...) na bola, o Sport não perde para o time dirigido pelo decadente Luxemburgo.

Ou:

Mas o Sport Recife se programou para fazer história. Não queremos só desclassificar o Palmeiras. Pensamos muito além disso. Queremos fazer história sendo campeões da Libertadores. Nunca tivemos uma chance tão grande.

Difícil saber se Beltrão é apenas uma versão pirateada do tristemente célebre Marco Aurélio Cunha ou se ingenuamente acreditava no que dizia. O fato é que Cosme aproveitou todas as chances que teve para alimentar o clima de guerra, como se percebeu nas quatro entrevistas (!) que fez com o dirigente em curto espaço de tempo, sempre apelando para perguntas maliciosas e que o incentivavam a falar mais do que deveria.

Da mesma forma, vários foram os posts que, mesmo não tendo nenhuma relação com a disputa entre os dois clubes, faziam menção a mesma. Até o aposentado técnico Mário Jorge Lobo Zagallo foi questionado sobre o assunto, em uma entrevista concedida ao blogueiro:

Como o senhor vê o clima criado entre Sport e Palmeiras para a disputa dos jogos da Libertadores?

Além de não ter nada a ver com o assunto, Zagallo teve que responder uma pergunta que continha uma clara má intenção, já que em nenhum momento o Palmeiras criou um 'clima' para o jogo contra a equipe pernambucana. Aliás, nem o clube nordestino nem o paulista recorreram a artifícios extra-campo, apesar de todo o ambiente fabricado por profissionais como Rímoli.

E qual seria a intenção de Rímoli ao atuar dessa forma? Gerar audiência ou apenas prejudicar o Palmeiras? As duas parecem ser respostas certeiras, já que o grande número de comentários nos posts relacionados ao assunto e a clara má vontade do repórter com o clube alviverde e, principalmente, com seu treinador apontam nessas direções. Durante o mês que antecedeu o primeiro jogo na Ilha, em abril, perdeu-se a conta das vezes em que Cosme citou a possível eliminação palmeirense da Libertadores, em um misto de satisfação e expectativa (torcida) para que isso acontecesse. Em um dos seus posts, ele diz:

Desde 1991, Luxemburgo é humilhado na Libertadores da América.

Entre as 'humilhações' a que se refere Cosme, estão a eliminação do Flamengo para o Boca Juniors (quartas-de-final, 1991) e a do Santos para o Grêmio (semifinais, 2007). Embora estabelecer a dimensão de uma derrota seja algo subjetivo, parece claro que as desclassificações citadas estejam longe de ser humilhantes; não assim a entrevista em que o treinador palmeirense colocou o repórter em seu devido lugar: nem Datena quis ficar do lado dele.

O mais curioso disso tudo é que boa parte da torcida rubro-negra realmente acreditou que o Sport fosse tão grande quanto o Palmeiras e que aquele estava finalmente recebendo a atenção da mídia. Ingênuos, muitos chegaram a agradecer ao repórter por publicar frequentemente posts sobre o clube. Nem desconfiavam que isso só duraria enquanto o time leonino servisse às intenções de Rímoli: o Sport só era importante enquanto podia fazer mal ao Palmeiras. Se durante um mês foram publicados nove posts sobre o clube, agora já são nove dias sem uma única palavra sobre ele.

É que para Cosme e para boa parte da imprensa paulista, o Sport já não serve mais. Que venha o próximo!

Em tempo: tanto o Sport como sua torcida estão de parabéns pela justíssima conquista da Copa do Brasil e pela bela participação no torneio sul-americano.

domingo, 19 de abril de 2009

Quando a crítica é oportunista


O Santos venceu ontem o Palmeiras por 2x1 no Palestra Itália e se classificou para a decisão do Campeonato Paulista de 2009; o outro finalista será conhecido na tarde de hoje, quando Corinthians e São Paulo se enfrentem no estádio do Morumbi.

A classificação santista para as finais do campeonato não tem como ser discutida, já que a equipe alvinegra foi superior à palmeirense nos dois jogos, mostrando a vontade e a vibração que faltaram na maior parte do elenco treinado por Vanderlei Luxemburgo — exceções feitas a Marcos, Pierre e Diego Souza.

E o técnico palmeirense é justamente o assunto deste post. Ou melhor, não ele, mas o tratamento tendencioso dispensado pelo Blog do Paulinho ao seu trabalho. Eu também tenho várias críticas a realizar ao comandante alviverde, mas me abstenho de fazê-las já que esse não é o propósito deste espaço, mas sim o de analisar o comportamento da mídia esportiva.

Assim, é impossível não discordar da conduta de Paulinho, jornalisticamente inaceitável, especialmente para um blog que tem o pretensioso slogan Jornalismo com credibilidade. De seus posts, destacarei apenas alguns trechos, mantendo os erros ortográficos e de concordância. O primeiro deles é sobre a vitória do Palmeiras, por 4x1, sobre o Santos, no início de fevereiro:


Massacre palestrino


O Palmeiras venceu, de maneira incontestável, o Santos, no Parque Antártica.



Os primeiros trinta minutos da equipe foram de encher os olhos.



Trocas de passe perfeitas e movimentação de ataque que deixou a zaga do Peixe sem saber onde estava.



Vitória gigante, com futebol de primeira, da nova equipe palmeirense.


Ao comentar a convincente vitória do Palmeiras, Paulinho teceu diversos elogios à postura e qualidade da equipe, sem no entanto fazer qualquer referência ao trabalho do treinador na formação e preparação do elenco. Essa linha — a de elogiar os jogadores mas evitar escrever uma palavra que fosse sobre Luxemburgo — foi a tônica de todo o período em que o Palmeiras permaneceu invicto. Era como se VL não existisse e não tivesse mérito algum com relação ao que acontecia dentro de campo.

Entretanto, logo de uma derrota considerada normal (os 2x3 contra a LDU em Quito), o Palmeiras sofreu o seu primeiro revés sério da temporada: perdeu por 1x3 para o Colo Colo em pleno Palestra Itália. Foi então que Paulinho, de maneira oportunista, se lembrou por primeira vez que a equipe palmeirense tinha um treinador no banco. Em sua postagem, ele diz:


Filosofia equivocada no Parque Antártica


A defesa palmeirense demonstra a cada partida que não assimilou a "filosofia".



É nessas horas que aparece, ou não, o dedo do treinador.


Ou seja: enquanto o Palmeiras apresentava um futebol envolvente e de encher os olhos, os méritos eram dos jogadores ou, talvez, do acaso. Mas bastou o time ter o primeiro fracasso para que a culpa fosse creditada única e exclusivamente a Luxemburgo. Claro, porque nesse caso sim deveria aparecer o dedo do treinador. Quando o time goleava e dava espetáculo, não, afinal isto devia ser obra do Sobrenatural de Almeida, não é mesmo, Paulinho?

Pouco mais de um mês depois da derrota para o Colo Colo, o Palmeiras voltou a campo pela Libertadores, desta vez para enfrentar o Sport em Recife. Embora muitos jornalistas já decretassem antecipadamente uma nova decepção e praticamente a eliminação alviverde, eis que o clube grande venceu o pequeno (puxa, não?), mostrando uma grande disciplina tática e força de vontade. Da postagem de Paulinho, destaco:


Palmeiras brilhante no Recife


O Palmeiras fez grande partida e venceu o Sport, na Ilha de Lost.



Atuando com humildade, fechado, com marcação eficiente e contra-ataque sempre perigoso, o Verdão jogou com espírito de campeão.



O Sport atacou, mas parou na surpreendente boa atuação dos defensores palestrinos.



O resultado era justo e premiava a dedicação da equipe palmeirense.


Uma vez mais, o blogueiro desperdiçou a chance de demonstrar ser um profissional sério e objetivo, mas preferiu — por pura implicância — não mencionar que Luxemburgo foi um dos grandes responsáveis pela vitória de seus comandados, ao armar de maneira quase perfeita o time, ser mais feliz nas substituições e vencer o duelo particular com Nelsinho Batista.

Se na vitória em Recife o trabalho de Luxemburgo foi ignorado, o mesmo não poderia acontecer depois do jogo contra o mesmo adversário no Palestra Itália. É evidente, já que desta vez o resultado não foi o esperado, e o time da casa acabou não passando de um empate em 1x1 com os pernambucanos. Foi a oportunidade para que o blogueiro se lembrasse novamente que o Palmeiras tem um técnico:


Próximo do vexame


O Palmeiras jogou muito mal no Parque Antarctica.



Empatou com o Sport, que passou a segunda etapa inteira com dez jogadores, demonstrando, mais uma vez, que V(W)anderlei(y) Luxemburgo tem problemas para fazer suas equipes tirarem vantagem deste tipo de situação.



Luxemburgo gritava, mas de pratico nada contribuía.


E eis que ontem, com a eliminação palestrina do campeonato estadual, Paulinho teve a oportunidade perfeita para desferir novamente seus ataques, contradizendo completamente o slogan que encabeça seu blog. Os trechos que destaco de seu post seguem abaixo:


Santos vence Palmeiras e está na final


O Santos, com inteira justiça, é o primeiro finalista do Campeonato Paulista.



Enquanto o ótimo Vagner Mancini armou o Peixe com coragem, ofensivo, imponente, V(W)anderlei(y) Luxemburgo conseguiu montar um dos piores setores defensivos da história do Palmeiras.



O primeiro tempo terminava e Luxemburgo dava chilique, advertido prontamente pelo árbitro.



O Santos pode ser campeão mais uma vez. 



De maneira justa, praticando um belo futebol, ofensivo, a cara de seu treinador.


Paulinho conseguiu ser incoerente várias vezes em poucas linhas. Primeiro, ao elogiar Wagner Mancini pelo estilo ofensivo do Santos (enquanto nunca fez o mesmo para o homólogo alviverde, quando das muitas vitórias palmeirenses no campeonato). Depois, ao dizer que o futebol da equipe santista é "a cara de seu treinador". Ora, e por que o futebol jogado pelo Palmeiras na primeira metade do torneio não era a "cara do treinador"? E que cara teria o futebol de certa equipe cujo técnico o mencionado blogueiro considera o melhor do país, ainda que suas características sejam defensivas e se resumam a chuveirinhos?

Paulinho ainda aproveita e diz que Luxemburgo 'teve chiliques' por causa da arbitragem de Sálvio Spínola. Que, diga-se de passagem, foi péssima e (mais uma vez) confusa, embora não tivesse influência alguma no placar final do jogo. Pois o blogueiro parece se esquecer do que escreveu dias antes:


Péssimo Sálvio


É de impressionar como Sálvio Espínola Fagundes é ruim de arbitragem.



Omisso, não aplica as regras com correção e se acovarda em momentos decisivos.


Então, há pouco menos de uma semana, Sálvio era ruim e se acovardava em decisões. Mas agora as reclamações de Luxemburgo são 'chiliques', pois na visão de Paulinho este deveria ficar quieto e suportar calado as presepadas do árbitro, não é mesmo?

Mas talvez o detalhe mais lamentável seja ver as diversas denominações que o campeonato recebeu de Paulinho ao longo de três meses. Sim, porque se no começo do torneio este o chamou de Paulistão (aqui e aqui), depois passou a chamá-lo de Paulistinha, quando a equipe treinada por Luxemburgo voava em campo e mantinha 100% de aproveitamento.

Sem problemas, porque agora que o Palmeiras está eliminado, o torneio deixou de ser Paulistinha. Ou como explicar a primeira linha do post, que reproduzo uma vez mais para que não pairem dúvidas:

O Santos, com inteira justiça, é o primeiro finalista do Campeonato Paulista.

Provavelmente, se Luxemburgo conquistasse o título, seria mais um Paulistinha no currículo. Mas como perdeu, é a hora de faturar em cima. E aí, vale tudo. Inclusive voltar a chamar o certame pelo seu nome: Campeonato Paulista. Claro, pois assim aumenta-se a dimensão da derrota de ontem, o contrário do que seria feito caso o Palmeiras vencesse.

Como conclusão, é importante deixar claro que o trabalho do técnico alviverde até agora merece críticas — e muitas — pois sua parcela de culpa é enorme no fracasso palmeirense na luta pelo bicampeonato. Mas essas críticas devem ser feitas com isenção e objetividade, dois elementos de que Paulinho parece não dispor quando o assunto é Vanderlei Luxemburgo.

Foto: Globoesporte.com

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O mico é argentino, mas o choro é brasileiro


Na tarde da última quarta-feira, a seleção argentina passou por um dos maiores vexames da sua história. A alviceleste foi impiedosamente goleada em La Paz pela Bolívia, com um marcador final de 6x1, igualando sua pior derrota, ocorrida há 51 anos (contra a Tchecoslováquia, na Copa do Mundo disputada na Suécia).

Além da grande festa que causou entre os bolivianos (cujas chances de classificação ao Mundial da África do Sul são remotas), o resultado serviu para que voltassem à tona os protestos de alguns torcedores e jornalistas brasileiros, que insistem em que jogos na altitude devem ser vetados pela FIFA. Curiosamente, do lado argentino não houve tal manifestação, pelo menos não desta vez.

Em seu blog, Juca Kfouri — um dos mais ferrenhos opositores a jogos em La Paz — escreveu:


A exemplo do que o Equador fez com a seleção da CBF nos 2850 metros de Quito, a Bolívia massacrou a Argentina nos 3600 de La Paz.

Só que fez os gols que o Equador desperdiçou e Júlio César evitou.


E, mais adiante:

Bem feito para Maradona que, demagogicamente, apoiara Evo Morales em sua cruzada contra a proibição da Fifa para jogos acima dos 2800 metros.

Juca comete dois erros. O primeiro ao comparar a derrota argentina no estádio Hernando Siles com o empate brasileiro em Quito. Embora ambos jogos tenham sido disputados em cidades altas, não é possível querer livrar a cara da indolente seleção nacional e creditar seu pífio desempenho no Equador à altitude. Se o chamado "time dos empresários" dependeu de Júlio César para não viver drama semelhante ao dos hermanos, deveu-se mais aos conhecidos problemas do time do que o lugar em que o jogo foi disputado. Insinuar o contrário é fazer o jogo de Dunga e companhia, ainda que involuntariamente.

O segundo erro foi o de mandar um bem feito para Maradona por ter apoiado os jogos na altura e ainda acusá-lo de ter sido demagógico. Ora, então ele não pode estar a favor de que uma cidade tenha direito de assistir jogos de futebol? Demagogia é querer proibir partidas em países pobres e sem nenhum peso político (como é o caso de Bolívia e Equador), quando todos sabemos que se Buenos Aires ou São Paulo estivessem situadas a 3.000 metros sobre o nível do mar estas questões nem sequer seriam discutidas.

Pior fez Milton Neves, que demonstrou estar em sintonia com o desafeto Juca quanto ao assunto. Aqui alguns trechos do seu post sobre o jogo:


Parece mentira: Bolívia 6×1 Argentina. E quem jogou muito foi a altitude!

E o que fala agora o Maradona, que tanto defendeu jogo acima dos 2.500 metros do nível do mar? O Dieguito aprendeu o que é bom para tosse.

Eu sou contra! O grande craque boliviano (é) mesmo a desumana altitude. Um jogador cruel para os adversários bolivianos.

É um jogador indecente, que não pode ser mais escalado. Qualquer hora algum jogador vai morrer jogando em La Paz ou em outro lugar com enorme altitude.

Mas agora, mais do que o Otello, mais do que ex-cruzeirense Marcelo Moreno, quem jogou muuuuuuito para a Bolívia foi a altitude!


Como de costume, MN escreveu um monte de bobagens sem pé nem cabeça, com direito até a uma referência mal feita e fora de contexto a um conhecido personagem shakesperiano. O apresentador afirma que algum dia um jogador morrerá na altitude, mas se esquece que jogos oficiais de futebol são disputados há muitas décadas nessas condições, sem que se registrassem casos de óbito; sabe-se, contudo, que o forte calor de algumas regiões do planeta já ocasionou mortes no campo, sem que se escutassem pedidos de proibição de práticas esportivas em temperaturas acima de 30º (claro, pois interesses comerciais estariam seriamente afetados neste caso).

Milton Neves finalmente conclui que quem jogou muito contra a Argentina foi a altitude. Ora, se é assim, seria interessante perguntar a ele porque o rendimento desse jogador havia sido tão ruim até agora, uma vez que a Bolívia não havia conquistado mais do que duas vitórias em toda sua campanha nas eliminatórias (uma contra o bom Paraguai e outra contra o fraco Peru).

De todos, quem se saiu melhor foi Vitor Birner, que postou um texto do qual destaco o seguinte trecho:


Também não tenho a menor dúvida que a altitude de La Paz é o maior trunfo boliviano nas eliminatórias.

Mas nada disso explica o pífio desempenho.

Levar 6×1 da Bolívia é dureza.


Embora reconheça a altitude como a principal vantagem dos bolivianos quando jogam em casa, ele não a utiliza para tentar explicar a injustificável surra levada pelo time de Tevez e Messi em terras pacenhas. Trata-se de uma postura muito mais mesurada, que se comprova na linha em que ele diz: "Não gosto da defesa argentina, nem do trabalho do meio".

Ou seja, dos três blogueiros citados, Birner foi o único que se dispôs, ainda que sucintamente, a fazer uma leitura mais inteligente do que havia ocorrido. Com sua breve referência ao esquema tático adotado por Maradona, chegou ao porquê da acachapante derrota. De fato, a fragilidade apresentada por uma seleção treinada por um homem que foi excelente jogador mas é completamente incapaz como técnico é facilmente explicada pela ausência de recursos de que este dispõe para comandar e organizar uma equipe de futebol.

Com tudo isto, não quero dizer que a altitude não afeta o rendimento dos jogadores. Ela tem influência sim, mas não mata ninguém e seus efeitos dependem muito do metabolismo das pessoas. Jogar na altura é sem dúvida uma vantagem para a Bolívia, mas é uma vantagem legítima proporcionada por sua geografia. É importante frisar que a maior parte dos atletas da seleção boliviana é oriunda de Santa Cruz, Beni (terras baixas) e Cochabamba (altura moderada), e que portanto estes também estão expostos a ter um rendimento inferior ao normal.

Finalmente, posso apostar que a maioria dos que criticam os jogos na altitude jamais visitaram essas cidades. Em poucas palavras, falam do que não sabem. Eu já estive em La Paz (3.600 m) e Potosí (4.067 m) e inclusive joguei futebol na capital administrativa da Bolívia (a oficial é Sucre). Não passei mal, tive o cansaço natural após realizar qualquer atividade física e meu desempenho foi o mesmo de sempre. Ou seja, medíocre. Mas essa é uma outra história, que nada tem a ver com a altura ou o choro de jornalistas que querem mamão com açúcar e melzinho na chupeta.

Foto: EFE, publicada no diário argentino Olé

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Primeiro de abril



Hoje o Blog do Paulinho publicou um post sobre o dia 1º de abril, colocando apenas uma imagem do Barão de Münchhausen (como ele chama o presidente da CBF, Ricardo Teixeira) e a foto do apresentador Milton Neves.

Fui na onda e postei o seguinte comentário:

Valdivia vai para o São Paulo e Kléber se apresenta amanhã no Parque São Jorge. 

É 1º de abril... 

Até aí tudo bem. O curioso é que o comentário foi censurado, assim como outro posterior em que eu ironizava o fato. Gostaria de saber o que pode ter motivado o blogueiro a atuar dessa maneira. A única explicação que encontro é que o mesmo teria ficado incomodado com a alusão a uma das maiores barrigadas da história recente da imprensa esportiva brasileira, perpetrada por Juca Kfouri em seu blog, em dezembro de 2007.

O post em questão era:

Valdivia no São Paulo

O meia chileno Valdivia tem praticamente tudo certo com o São Paulo.

Seu empresário, Juan Figer, de ótimas relações com Juvenal Juvêncio, está com a papelada toda quase pronta.

Será o presente de Natal para os tricolores e o de grego para os alviverdes.

Pois já se passou quase um ano e meio dessa verdadeira pérola do jornalismo e o fato é que ainda não há data para a estreia do meia chileno com a camisa tricolor. Para Paulinho, no entanto, parece não haver graça na alusão feita ao jornalista, de quem é discípulo e fã declarado, a tal ponto que uma simples ironia sobre a vexatória presepada de Juca seja motivo suficiente para reprovar uma resposta. 

Não há problema algum na admiração de Paulinho por Juca, mas a supressão de um comentário que não foi em nenhum momento desrespeitoso demonstra uma perigosa tendência a censurar opiniões que não sejam de seu agrado. E este definitivamente não deveria ser o critério de aprovação em um blog que — supõe-se — permite a divergência de pontos de vista, sem a qual os debates sobre futebol não teriam a menor graça.

PS: Para quem não entendeu a referência a Kléber, basta recordar o que publicaram o jornal Lance! e outros veículos de comunicação em dezembro do ano passado, garantindo a ida do ex-atacante palmeirense, hoje no Cruzeiro, ao rival alvinegro.

Crédito da foto: cena do filme italiano Pinocchio (2002), com Roberto Benigni

Apresentação do blog



O Blog do Justiceiro surge com a premissa de observar o comportamento da imprensa esportiva na Internet, bem como seus conteúdos de informação e opinião, por vezes de baixíssimo nível, como ocorre também na mídia convencional.

Por "imprensa esportiva na Internet", leia-se "sites esportivos e blogs, sejam estes independentes ou ligados a veículos de comunicação e portais". A minha visão será uma mescla do ponto de vista de um internauta com um profissional formado em Comunicação e alguns anos de experiência em Jornalismo.

Se não rolar nenhum comentário neste blog, vou tocando o barco do mesmo jeito, já que a minha ideia é registrar minha opinião, que muitas vezes não pode ser exposta por completo em outros sites ou é censurada, sem que haja motivo para isso na maioria dos casos. Aqui não tem como me vetarem, então vou dizer o que penso sem rodeios.

Começa o jogo.



Observação do autor, realizada em 13/04/2012:
Depois de muito tempo inativo por absoluta falta de tempo, volto com o blog, esperando atualizá-lo de forma mais frequente e contínua desta vez. A ideia é continuar acompanhado o comportamento da mídia esportiva e também falar de arbitragens, torcidas, clubes e tudo o que estiver relacionado ao futebol. Obrigado pela visita e boa leitura!