quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Que país é esse? (Ou: quem é Emerson Sheik?)

Esta é uma nação singular. Apenas em um país como o Brasil um bosta como Emerson Sheik pode ser ídolo e uma torcida formada por marginais pode ser tão bajulada. 
Tudo começou com a despedida que a torcida do Corinthians fez ao time no Aeroporto de Guarulhos, no embarque da equipe ao Japão para da disputa do Mundial de Clubes. Durante a "festa", câmeras de segurança e placas de sinalização foram quebradas, escadas rolantes travadas, extintores esvaziados e bombas arremessadas. A confusão causou destroços e tumulto no Aeroporto de Guarulhos. Vendedores também relataram que houve roubo de produtos em suas lojas. 
Como era de se esperar, a repercussão na mídia sobre os atos de vandalismo (que não foram de duas ou três pessoas, frise-se) foi mínima, optando-se pelo populismo barato e a bajulação corriqueira à torcida corintiana. Juca Kfouri - um dissimulado muito mais perigoso que o palhaço Chico Lang - não fez nenhuma menção à selvageria, limitando-se a postar uma foto da festa e algumas palavras em seu post, fiel ao seu estilo fingido e covarde. Benjamin Back foi além: não só ignorou o acontecido como fez um texto carregado de exageros e no qual apenas reforçou a arrogância de uma torcida que se crê mais apaixonada que as demais e que por isso tem direito a fazer o que bem entender. Já Rica Perrone, que tem fama de polêmico mas é o mais bundão dos jornalistas esportivos da atualidade, resumiu a barbárie como coisa de "um ou outro que se exaltou"
É fato que há tempos a torcida corintiana se acostumou a protagonizar os maiores atos de vandalismo da cidade, sem que por isso fosse punida. Ao contrário: sempre se passa a mão na cabeça dos "mais fiéis", dos "mais apaixonados", "dos mais sofridos", o que deu a eles superpoderes. A impressão que temos é que podem fazer o que bem entenderem, mesmo. Destruir o Pacaembu, queimar ônibus, promover emboscadas, botar fogo em carros alegóricos no Carnaval e depredar o aeroporto. Parece não haver limites para os marginais. E não haverá, enquanto a postura da mídia for a bajulação e a mão branda das autoridades continuar a permitir a ação dos vândalos. 
Do quebra-quebra em Guarulhos, a maior repercussão ficou por conta mesmo das declarações do lateral Léo, do Santos, e do atacante Emerson Sheik, do Corinthians. Em entrevista à ESPN, o primeiro declarou: "(A torcida do Santos) fez uma baita festa, não quebrou e não destruiu nada. Mas quem está acostumado com rodoviária não pode ir a aeroporto. Destruíram tudo, mas é assim, faz parte". Sheik não esperou muito para escrever no Twitter: "Porra só pode tá de sacanagem !!! Quem e você ? Cala a boca seu merda !!! Só e lembrado quando abre a boca suja pra falar besteira !!!" (sic)

Sheik tem se notabilizado por provocar os rivais em seu perfil no Twitter. E não há nada de errado nisso, pois faz parte do tempero do futebol. O problema é que sua arrogância é irritante na medida em que a impunidade existente no país permite que um marginal como ele possa se achar no direito de menosprezar todo mundo. A pergunta que fica então é: quem é Sheik? A resposta vem fácil: é um jogador que já foi preso por portar documentos falsificados e por estar envolvido em contrabando e lavagem de dinheiro. Portanto, quem Sheik pensa que é para ser tão insolente? Sheik é um bosta, e apenas em um país como o Brasil um ser humano dessa espécie pode ser reverenciado e (oh, surpresa) bajulado pela mídia covarde e ordinária que temos por aqui. 
Pensando bem, Sheik joga no time certo: afinal de contas, de lavagem de dinheiro o Corinthians entende bem, já que desde sua venda para a máfia russa, em 2004, o clube está acostumado a praticá-la, o que explica grande parte do seu sucesso recente no campo. Para um clube vendido para a máfia russa, acostumado a escândalos de corrupção como o infame "1-0-0" (em que o presidente alvinegro Alberto Dualib oferecia dinheiro para a campanha política de Ivens Mendes, então chefe da comissão de árbitros, em 1997) e o título roubado de 2005 (como o próprio Dualib reconheceu em escuta telefônica revelada pela Polícia Federal) e que recebeu de presente do padrinho Lula um estádio particular com dinheiro público e, mais recentemente, patrocínio de um banco estatal, também negociado pelo presidente do mensalão, Sheik é o jogador ideal e que simboliza o caráter de quem faz parte desta instituição corrupta. 
Sim, o Corinthians será campeão mundial e Sheik voltará vomitando a arrogância que lhe é habitual, assim como Mário Gobbi e outros integrantes da quadrilha. E daí? Em um país em que Maluf anda livre e em que Lula provavelmente seria reeleito caso se candidatasse novamente à presidência, fazer sucesso lavando dinheiro e comprando resultados não deveria causar estranheza. Sofram, palmeirenses. Sofram, são-paulinos. Sofram, santistas. Aqui é Curintia, mano! E assim como PT, cachoeiras e mensalões continuarão a dar as cartas por um bom tempo, também o "time do povo" (?) seguirá colecionando títulos e patrimônio nos próximos anos, como nunca antes na história deste país. Farão isso com seu dinheiro. E depois vão jogar na sua cara. Quem viver verá.